Relato da travessia Búzios-Guarapari.
Saímos de Búzios às 6:30 da manhã, mais tarde do que planejávamos. A previsão era de tempo nublado, com chuva e ventos entre 7 e 10 nós. Esse era o prognóstico do litoral de Búzios. Em Cabo de São Tomé a tendência seria aumentar toda essa situação. Partimos com esse quadro.
Motoramos umas 4 horas junto com as velas. Depois o vento aumentou e ficamos somente a vela, grande e genoa totalmente abertas. A velejada estava ótima, ventos entre 15 nós e o Sobá nos 6, 7 nós. Me encantava ver o barco com cerca de 14 toneladas navegar tão bem. No início, até Cabo de São Tomé, o vento sudoeste era para nós uma orça , ou seja, íamos contra-vento todo o tempo e o barco se comportava maravilhosamente bem. Na verdade essa era nossa primeira experiência nessa condição e estávamos felizes. A viagem continuava tranquila, as crianças dormiam e comiam bem, eu e Maite nos mantínhamos na navegação. Apareceram uns golfinhos e fizeram a festa de todos.
A virada do cabo era uma novidade apreensiva, pois todos falavam que era perigoso, havia um baixio (parte mais rasa) que poderia em determinadas condições, quebrar ondas, dificultando a passagem. Fizemos um trajeto passando bem por fora para evitar essa área. Tudo correu bem.
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Olha o golfinho! |
Mudamos para o rumo de Guarapari por volta das 11 da noite. Sempre havia uma chuvinha. Pouco a pouco foi aumentando cada vez mais junto com o cair da noite. As crianças dormiam bastante, eu sempre na guarda da navegação, agora mais ainda com a condição piorando. O vento passou a girar entre 20 e 25 nós. Reduzi a genoa pela metade e mantive a grande aberta, na esperança que o vento se mantivesse nesse nível. O barco parecia uma locomotiva louca, subindo e descendo a ondulação de cerca de 3 metros e velocidade de 8 nós. Nos mantivemos um bom tempo assim até que resolvi rizar (baixar) a vela grande. O quadro era de tempestade e rizar uma vela nessas condições não era tarefa das mais simples. Maite teve que alinhar o barco com o vento, eu coloquei um cabo de segurança e lá fui baixar a vela. Alguns contratempos surgiram, mas com minha arte de engatilhar, consegui fazer toda a operação. A genoa com apenas uma pontinha e lá fomos nós seguindo nosso rumo, com uma emoção a mais por conta de todo o contexto. No meio da noite o AIS (sistema que emite sinal rádio de outras embarcações para o nosso barco) soou alarme, ou seja, havia alguma coisa adiante a menos de 2 milhas. Desliguei o automático e desviei, eram duas plataformas petrolíferas. Nesse momento acordei a Maite, que justamente havia deitado para descançar, a ajudar a pôr o barco no rumo novamente. Vale a pena investir em equipamentos de segurança.
Ao amanhecer Maite se levantou e a não gostou do que viu. Mar com ondas de 3 a 4 metros, vento que quebrava as ondas e eventualmente o mar lavava o convés. Nossa aventura era de verdade. Talvez para velejadores mais experientes isso tudo seja normal, mas para nós nem tanto... Mantivemos um clima de tudo bem e as crianças ficaram nesta onda. Na verdade estava tudo bem, apenas chovia, ventava e o barco continuava uma "locomotiva desgovernada".
Finalmente chegamos em Guarapari. A entrada para onde queríamos parecia um mar de ondas, e não víamos uma entrada. Nosso GPS ''Santo GPS'' foi quem nos indicou a entrada. Buscamos um ancoradouro numa praia que havíamos verificado anteriormente e finalmente chegamos.
Dois créditos importantes: o manual Marçal Ceccon, que indica os lugares para ancorar e entradas do litoral do Brasil e do Ricardinho do Clube Naval que interfaceou o AIS no GPS plotter, sempre me avisando dos navios e plataformas do caminho.
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Esse era o mar... |
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Clima descontraído das crianças. |
e
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a cara de cansado do Capitão. |
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Já instalados e tranquilos almoçando. |
Hoje já fizemos um reconhecimento da área. Praia do Boião. Estamos em frente a dois condomínios de luxo. Já contactamos os responsáveis que permitiram nossa estada e inclusive permitiram nossa passagem para acessar a cidade. Descobrimos uma praia cerca que havia ondas e demos uma caída. O mar é quente, mas o vento continua frio. Maite fez comida gostosa (para variar). Estamos pondo a casa em ordem e as crianças estudando.